Catânia é a segunda cidade em número de habitantes na Sicília, perdendo apenas para Palermo, a capital do estado mais ao sul da bota. Mas ainda que possua mais de 300 mil habitantes, guarda ares de cidade de interior, onde tudo parece se desenvolver ao longo de uma única avenida. Neste post, o roteiro para um dia em Catânia.
Acho que a alma italiana, ou ao menos o nosso estereótipo da alma italiana, espelha o que cidades pequenas tem de melhor. Os olhos reconhecem o que aprendemos a ver como legitimamente italiano e este reconhecimento dá um conforto ao coração. Stendhal, também estrangeiro e também apaixonado pela Itália escreveu:
Devo confessar, ademais, que uma mulher de talento me escreveu em Paris que eu teria um ar rústico. Talvez seja por causa deste defeito que a simplicidade italiana me conquistou tão rápido.
Que naturalidade! Que simplicidade! Como cada um diz o que sente e o que pensa no mesmo momento! Como ninguém pensa em imitar um modelo!
Stendhal, Roma, Nápoles e Florença.
E o que seria este espírito? Praças onde se toma calmamente uma taça de vinho ou um expresso, ao lado de fontes e igrejas maravilhosas. Feiras livres no meio da rua, pequenas quitandas e restaurantes que convidam a uma parada e uma conversa prosaica:
-como estão as berinjelas hoje?
– frescas, acabaram de chegar
E assim, embaixo das roupas penduradas nas janelas, perceber que a vida pode ser simples…
Ao chegar em Catânia lembrei mais uma vez como adoro esse reconhecimento! Ainda que as buzinas, a loucura de gritos e assédio de vendedores em Roma deixe este amor adormecido, podemos encontrar o palpitar em bairros como Campo dei Fiori e Trastevere, é só ter sorte estar lá em um dia bom.
Voltando a Catânia, a Via Etnea é a principal avenida da cidade e corta alguns dos principais pontos turísticos.
O parque Maestranze ou Jardim Bellini ou simplesmente Villa, está em frente à Av. Etnea e marca o início das atrações turísticas. Começamos a desbravar Catânia pelos seus 70.942m².
O parque, ou Villa Bellini, homenageia o compositor Vincenzo Bellini, um dos maestros mais conhecidos do Século XIX. Se passar mais tempo na cidade, vale a pena tentar assistir à opera Norma, mais famosa do maestro, no Teatro Massimo Bellini.
O parque foi construído entre duas colinas e, por isso, possui partes mais elevadas e uma bonita vista das partes baixas, com fontes luminosas e relógio de sol. Na subida, abriga um lindo campanário com bancos, perfeito para declarações românticas 🙂
Seguindo pela Via Etnea, próximo à época de Natal, existem várias feirinhas de artesanato e gostosuras. É uma ótima época para visitar Catânia.
À direita da Etnea, em frente à estátua do cidadão mais ilustre da cidade, Bellini, está o Anfiteatro Romano.
A segunda ruína romana mais importante da cidade e que fica à céu aberto, na Piazza Stesicoro, data do Séc. II d.c. Foi um dos maiores anfiteatros do império Romano, perdendo apenas para o Coliseu, mas atualmente está quase todo encoberto pelas construções “modernas” do Século XVI a XIX.
O pedacinho à mostra já impressiona, imagina há 1900 anos atrás!
Ainda caminhando pela Via Etnea há Igrejas Barrocas, como a S. Michele Ai Minoriti, a prefeitura da cidade instalada em um Palácio e ex-convento, além de lojas, cafés e restaurantes.
A Igreja que me chamou mais atenção foi a Basílica Collegiata, pena que estava fechada. A sua fachada estupenda do Século XVIII, no estilo Barroco Siciliano, com colunas, balaustradas e as harmônicas estátuas de São Pedro, São Paulo, Santa Apolônia e Santa Ághata, padroeira da cidade, indicam a maravilha que deve ser seu interior.
No final da Via Etnea está a praça mais importante da cidade, a Praça do Duomo, marcada pelo obelisco sustentado por um elefante, animal símbolo da cidade, de 1735.
A cidade de Catânia foi quase inteiramente destruída em um terremoto no ano de 1693, por isso a maior parte dos seus prédios foram reconstruídos. Parece que só as ruínas romanas sobreviveram bravamente.
A principal construção da praça é a Igreja de Santa Ághata maravilhosa por fora, mas simples por dentro, à exceção do pórtico principal, lindíssimo.
A Catedral abriga o túmulo de Bellini e foi construída em estilo barroco siciliano também após o terremoto, que destruiu a antiga igreja que ali estava. Atenção para os horários de funcionamento pois, embora não estejamos na Espanha, há uma sesta longa na Catedral. Funciona de 7h às 12h e das 16h às 19h, com visita guiada das 10h30 às 12h e das 16h às 17h30.
Ao lado da Catedral está a Porta Uzeda que interliga a Catedral ao Palácio dos Clérigos, segundo edifício mais importante da praça.
Logo ao lado está a Fontana dell Amenano. A melhor descrição para essa fonte foi do Blog Eu Ando Pelo Mundo:
Esta fontana foi construída em 1867 (Ok a de trevi é mais velhinha, de 1762) toda em mármore de carrara e simboliza o rio Amenano. A água que cai da fonte entra no rio que passa embaixo da praça Duomo. Embaixo da praça! :O Eita arquitetura moderna essa do século 19! Quero ver um arquiteto de hoje construir uma praça por cima do rio e deixar o rio intacto, saindo bonitinho pelo outro lado. Quero ver!
Também quero ver! rsrsrs
A apenas 300m da Fontana está o Teatro Romano, atrás de uma fachada inacreditavelmente simples, um dos lugares mais fantásticos que já conheci!
Este enorme teatro romano, construído no Séc I, onde antes ficava um teatro grego, era inteiramente coberto por casas, quando, em 1770 as primeiras escavações revelaram o tesouro escondido.
Apenas nos anos 1980 quando a maior parte dos prédios foram removidos, foi que conseguiu se entender a estrutura e dimensão do mesmo.
O Teatro tinha capacidade para 7000 espectadores com três partes, cave para a orquestra, túneis escondidos, colunas de mármores com estátuas e decoração refinada. Servia para espetáculos de dança, concertos e peças.
Na entrada do teatro pudemos ver a foto mais antiga do local, de 1930, com as construções por cima das ruínas.
Do Teatro Romano fomos ao Castello Ursino, uma construção medieval (Séc. XIII), que abriga atualmente um museu cívico. Havia uma exposição de Chagall interessante, com gravuras e painéis interativos, além da coleção do próprio museu, com 8.043 peças de achados arqueológicos, inscrições, moedas, esculturas, pinturas, sarcófagos cerâmica grega e mosaicos romanos.
Em frente ao Castello Ursino há uma praça bem cuidada, Federico di Svevia. O castelo foi construído à beira mar, mas uma das explosões mais intensas do vulcão Etna, em 1669, cobriu o seu entorno com lava, afastando o mar para mais adiante.
Próximo à praça Federico, uma linda praça do livro, em frente a um sebo.
Espaço para leitura nas ruas, Catânia, Itália
Nós gostamos muito de Catânia, achamos os locais engraçados e prestativos, mas tenho que avisar que ela não possui a elegância de Florença, nem a quantidade de atrativos de outras cidades da Itália. Ou talvez eu só tenha sido contaminada pelos hábitos cataneses, como li em um mapa da cidade:
Queixar-se de Catânia é um hábito, mas basta um olhar para o Etna coberto de neve, para o mar calmo e as fachadas barrocas para perdoar à nossa cidade todo ou quase todos os seus defeitos.
Terminamos um dia em Catânia apreciando as luzes das árvores natalinas distribuídas pela cidade e com a sensação de que devemos voltar, e logo!
♠Onde ficar?♠
Nós nos hospedamos em um B&B bem recomendado, o Miro Centro. Fica próximo do Parque Bellini e dá para fazer este roteiro a pé, a partir da pousada. O único inconveniente era o banheiro externo.
A pousada tem quartos com banheiro privativo, só o nosso tinha banheiro externo, então é bom esclarecer para evitar o inconveniente. Para ver outras opções de hospedagem, clique aqui
♠Onde comer?♠
Conhecemos dois restaurantes, um próximo à pousada, Tratoria La Terrazza del Barone e no Restaurante Camelot. Os dois foram satisfatórios, mas não as melhores refeições que já provei.
♠Como Chegar♠
Fomos a Catânia a partir de roma em um vôo de 1h20min pela Vueling, custou E$ 93,00, com uma mala média. O trecho por pessoa, já que de Catânia fomos a Malta.
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3 Comentários
George Levi
13 de maio de 2017 em 20:19Mais uma vez , foi bastante útil a leitura sobre Catania, pois estou com uma programação para o mês de setembro, quando irei á Sicília, e no roteiro passaremos por essa linda cidade.
viagensinvisiveis
17 de maio de 2017 em 21:13George, Catânia precisa de uma certa amabilidade para que se goste dela. É que Taormina fica tão perto e parece uma vila de brinquedo, por isso uma concorrente forte para a preferência. Mas se estiver com o coração aberto, certamente gostará de Catânia, espero que a magia aconteça! Abs
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