Medina e Rabat, as cidades árabes, foram boas surpresas de Malta.Quando comecei a pesquisar a viagem a Malta, em cima da hora, Medina ou Mdina me chamou logo a atenção. Tomada pelos árabes na época medieval, a antiga cidade de Melita (nome romano) foi dividida em duas partes, a fortificada, chamada de Mdina e a cidade externa, Rabat.
Rabat não era apenas uma extensão de Medina, mas foi sede de diversas entidades religiosas e base de monastérios e ordens. As duas cresceram até 1571, quando Medina deixou de ser a capital de Malta com a chegada da ordem dos cavaleiros de São João.
Valeta, por ser mais próxima do porto, passou a deter a administração e o poderio militar da ilha. Acho que a saída do governo fez bem a Medina, que manteve sua feição de cidade de interior, ficando conhecida como “A cidade velha”.
Velhice foi tudo o que não vimos em Medina! Lotada de turistas, os cafés fervilhavam, os museus e a catedral muito movimentados e as carruagens passavam por nós sempre com algum turista empolgado.
Cidades amuralhadas me instigam, imaginar em um mundo fluido como o nosso, uma cidade parada no tempo, cercada por um muro real, estático… Geralmente há uma relação com aprisionamento, mas as cidades muradas que conheci, como Cartagena das Índias ou Óbidos, podem ser festeiras ou tranquilas, mas nunca tediosas!
Medina não fugiu a esta imagem, além da balbúrdia de turistas, a atmosfera de ano novo e os resquícios do Natal, deixaram a cidade bem animada.
Conhecemos o Museu e a Catedral, que ficam em frente um do outro. O museu é interessante, não tão refinado como os de Valeta, mas com um calabouço escondido e algumas instalações de arte moderna. O que mais gostei de ver foram os mobiliários de época doados pelos aristocratas em memória de seus entes queridos. O prédio é de 1744 e que entrada barroca!
O Museu possui um bonito acervo de arte sacra no primeiro andar, que vale a pena conferir. A pintura mais famosa é esta chamada O Políptico de São Paulo, produzida em data anterior a 1682.
Como fomos entre o Natal e o ano Novo, havia um enorme e requintado presépio na Catedral. A decoração natalina chamava ainda mais atenção para o luxo do piso e da decoração.
A Catedral de São Paulo em Medina foi reconstruída diversas vezes, sendo a última em 1702, antes foi deixada em ruídas na época muçulmana e foi atingida por um terremoto em 1693. A reforma a tornou ainda mais grandiosa, como se pode observar das fotos e sua quantidade de mármore, veludo e dourado.
Recomendo a visitação da Catedral e do Museu, mas o delicioso de Medina é se perder nos becos, olhar as janelas e suas cortinas bordadas e imaginar tantas vidas que silenciosamente respiram naquele lugar.
Do outro lado de Medina está Rabat, não há divisão entre as duas cidades, mas apenas o terminal de ônibus entre o jardim Buskett e o centro de Rabat.
Embora Medina seja mais famosa que Rabat, esta última guarda seus tesouros. A catedral de São Paulo possui catacumbas antigas interessantes, mas a principal atação é a gruta de São Paulo.
Há várias versões sobre esta gruta, alguns dizem que seria ali que São Paulo teria se escondido após a perseguição dos romanos. Outra afirma que São Paulo teria recusado todos os confortos oferecidos pelo governador de Malta, residindo volutariamente nesta gruta, onde teria pregado para os primeiros convertidos de malta.
Na gruta, muito bem cuidada e protegida, há afrescos originais da época. Seriam próximas do ano 60 d.C, quando São Paulo teria desembarcado em Malta.
Parece que os malteses gostavam de uma catacumba, além desta na Igreja de São Paulo, existem outras na Igreja de Santa Ágata e também no Hypogeum. Como não podiam ser enterrados dentro dos muros, os corpos acabavam sendo levados para estas catacumbas, fora da cidade, onde eram realizadas as cerebrações mortuárias.
Não conseguimos conhecer o Museu da Antiguidade Romana, que parecia ser uma boa pedida de Rabat, pois era dia 31/12 e todos os lugares fechavam mais cedo para o Ano Novo.
♣ Dicas Imperdíveis de Rabat ♣
Por ser menos turística, Rabat tem ótimos restaurantes e mais baratos do que Medina. Comemos pizzanis saídos na hora do forno próximo ao terminal de ônibus em um pequeno bar familiar, por menos de R$1,00. O nome do lugar era Kinnie e fica em frente ao ponto de ônibus, entre o Jardim Buskett e a entrada de Rabat.
Uma ótima opção para o almoço foi o com os melhores preços que vimos em toda Malta, comida bem servida e atendimento simpático. Fica em uma rua bem estreita, a Triq San Pablo. Esta rua tem formato de U, então deve percorrer inteira até aparecer o restaurante loco no final do beco.
Andar por Rabat pode causar mais surpresa do que Medina, por ser mais vazia, pudemos observar a arquitetura com calma, além de perceber maior inteiração com os moradores.
Uma vida normal que não parece crível em Medina, homens jogando damas nas calçadas, programa de rádio na praça, senhoras passeando com cachorro… Rabat é a versão possível de Medina, mais livre pois desprovida de muros, mas também bonita e bem cuidada.
Se for a Medina, não esqueça de Rabat, ela vai te surpreender!
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