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Cidade do México – Um dia no Centro Histórico

O Centro Histórico da Cidade do México é um dos programas imperdíveis da cidade. O ideal é reservar dois dias para contemplar com calma todo o conteúdo artístico e arquitetônico, que, embora bem condensado em um circuito percorrível a pé, é enorme. Atenção apenas para um detalhe: os museus mexicanos não funcionam às segundas (segunda é um bom dia para ir em Teotihuacán).
Um lugar para começar é o Zócalo. Chamada também de Plaza de la Constitución, esta praça gigantesca ainda hoje é palco dos mais importantes acontecimentos da cidade. Passamos por ela duas vezes, um sábado e um domingo, e sempre estava cheia de gente, com um palco armado, apresentações musicais e até índios realizando rituais (não dava para saber se os rituais ou mesmo o índio eram fakes ou verdadeiros). Há a estação de metrô Zócalo que deixa bem em frente à praça. Esta foto foi tirada do último andar do Hotel Majestic, onde tomamos um café apreciando a praça.
Olhando para os prédios da Catedral Metropolitana à esquerda, do Palácio Nacional em frente e do Palácio da Justiça à direita, refletimos sobre a beleza deste centro histórico, bem conservado, com prédios em estilo barroco, formando um quadrado perfeito. Como se a perfeição das formas da arquitetura pudesse mudar ou elevar nossos pensamentos para mais próximos da humildade, justiça e solidariedade, como pensava Octavio Paz. 

“Destino terrible de la arquitectura: en la plaza perfecta como un círculo o un cuadrilátero, ante el Palacio de la Justicia y el Templo, geometrías vueltas bulto y presencia, el pueblo vitorea al demagogo, apedrea al hereje, condena ao sabio o es asesinado por la soldadesca. La arquitectura es testigo, no cómplice de estos extravíos; y más, es un silencioso reproche: aquellos que son sabios y buenos ven en el equilibrio de sus formas a la imagen de la justicia.” México en la obra de Octavio Paz.


O primeiro ponto de visitação pode ser o Palácio Nacional, com entrada gratuita e um dos mais importantes murais de Diego Rivera, chamado a Epopeia do Povo Mexicano ou Ciclo da História do México, “três murais tematicamente interligados, nos quais relata, por ordem cronológica e em episódios exemplares, a História do México.” Rivera, Andrea Kettenmann. Está logo na entrada, na escadaria principal.


Diego Rivera começou este mural em 1929, com O México Pré-Hispânico – o Antigo Mundo Indígena, em seguida a parede central (foto acima) e em 1934/1935 o O México, Hoje e Amanhã – detalhe na foto abaixo – com a presença de Frida e sua irmã Cristina.
 
Diego Rivera utilizou os antigos livros astecas como base para estes últimos murais do Palácio que contam a história de Tenochtitlán, chamada O México pré-colonial e colonial – A cultura dos Totonacas (1950).  
 
Embora seja uma visão idealizada do Império Asteca, retrata a dimensão e refinamento desta civilização, com a construção das pirâmides, dutos e outras obras, mesmo sem o conhecimento e ferramentas que dispunham os europeus. A cidade retratada era Tenochtitlán “a capital dos astecas e hoje a capital do México, foi erguida numa ilha do lago Texcoco. A cidade era cortada por imensos canais, aquedutos, vias elevadas e contava ainda com palácios e jardins.” Guia Politicamente Incorreto da América Latina – Leandro Narloch e Duda Teixeira.
 
No centro do Palácio, construído como a arquitetura da época mandava, com este enorme pátio interno, tem uma bonita fonte chamada de Fonte de Pégaso. 

O Palácio Nacional está no mesmo local onde antes era a residência de Montezuma, o último chefe asteca e também conta com um jardim botânico interessante. Ainda existem outros murais históricos de Diego Rivera, à esquerda da fonte.


A saída do Palácio pelo jardim já fica próximo ao Antiguo Colegio de San Ildefonso, segundo ponto de visita. Logo em frente se pode observar alguns prédios afundando. Isto porque foram construídos sob o lago Texcoco, existindo várias obras de conservação em andamento, inclusive a Catedral Metropolitana já teve restaurado seu subsolo para evitar que cedesse. Olha um exemplo do afundamento:


A fachada no estilo barroco e o amplo patio interno  do Colegio Ildefonso demonstra a época da construção do prédio, Século 16, que era um seminário jesuíta e hoje abriga importantes murais de Orozco, Siqueiros e Rivera. Custa 20 pesos o ingresso (R$5,00), mas às terças é grátis.


É considerado o berço do muralismo, já que com a reforma educacional proposta pelo secretário de cultura José Vasconcelos, Rivera teve o seu primeiro mural encomendado para as paredes do anfiteatro deste colégio. Não pudemos ver, pois estava fechado para limpeza. Em compensação vimos os fortes murais de Orozco. Alguns bem caricatos, principalmente com a burguesia da época, mas a maioria muito melancólicos e dramáticos.
A Trindade Revolucionária – Orozco


O Pobre – Orozco
 
Uma das obras mais importantes está sob a escada, chamada La Malinche, e retrata Cortês com La Malinche, uma índia a quem este se uniu e que, por este motivo, é considerada uma traidora da pátria.
 
O colégio conta ainda com um patio agradável e outras obras como vitrais e murais e Siqueiros. 

 

Saindo do Antiguo Colegio San Ildefonso, pode-se retornar até próximo do Palácio Nacional para visitar o Templo Maior, à sua direita. A entrada custa 57 pesos (R$15,00). 

 

Templo asteca construído entre os Séculos 14/15 e descoberto acidentalmente em 1978, foi quase inteiramente destruído pelos espanhóis. Uma das provas da falta de cuidado com o templo está neste duto que corta o templo ao meio, construído no Século 18 para escoar esgoto.
 
Há diversas peças interessantes como a serpente contorcida. 


Ou as quatro cabeças de serpente que guardavam o templo.


O Templo Mayor, considerado o mais importante templo asteca, foi construído no local onde teria sido visto uma águia sobre um cacto comendo uma cobra. Estes são os elementos mais facilmente encontrados em todo o templo, há, inclusive, cactos plantados.
 
 
A parede de crânios dá uma dimensão da quantidade de sacrifícios realizados pelos astecas. P.s: os crânios são verdadeiros.
 
“É dificil encontrar, entre todos os continentes de todas as épocas, uma civilização mais obcecada por cerimônias de morte do que os astecas. As estimativas de mortos durante o domínio deste império variam muito: mesmo as mais baixas são assustadoras. Relatos espanhóis do século 16, com base em histórias contadas pelos índios, falam em 80.400 mortes em 1487, durante a inauguração do Templo Maior de Tenochtitlán. Trata-se certamente de um exagero, nem as máquinas de morte em série do Holocausto conseguiriam matar tanta gente em tão pouco tempo. Provavelmente os astecas, para realçar sua majestade e espalhar o temor entre os vizinhos; e os espanhóis para destacar a selvageria dos índios, extrapolavam a quantidade de pessoas mortas em sacrifícios. Já o códice Telleriano-Remensis, uma reunião de pinturas narrativas dos astecas criada no século 16, fala de uma matança menor, ainda assim impressionante: 4 mil pessoas sacrificadas na inauguração do templo.”  Guia Politicamente Incorreto da América Latina – Leandro Narloch e Duda Teixeira.
 
 
Esta é a figura de Chacmool, lendário personagem asteca que representava um intermediário entre os homens e os deuses, o receptáculo na barriga era utilizado para colocar as oferendas. Além dos artefatos encontrados, o Templo Mayor ainda oferece uma bonita vista da Catedral Metropolitana.


Saindo do Templo Mayor, pode-se à direita, visitar a Catedral Metropolitana. Olha que graça os riquixás oficiais.


A Catedral Metropolitana é uma suntuosa obra barroca, com cúpula neoclássica e campanários gêmeos.  A maior igreja da América Latina é tão gigante que não se consegue fotografar inteiramente, só com uma lente panorâmica ou do centro do Zócalo. Levou quase trezentos anos para ser construída. Esta foto é do Sagrario metropolitano, igreja ao lado construída no século 18 em estilo barroco, com esculturas de santos entalhadas. 


Embora enorme, a parte principal estava cheia e ocorrendo uma missa com passagem restrita. Logo na entrada o que se vê é a Capilla de las Relíquias com o Altar del Perdón.


Ao lado estão os órgãos de tubo e coro. 


Como já havíamos passado pela Av. 5 de Mayo (onde está a Casa dos Azulejos e a Dulcería de Celaya), post de 04/11/2012, seguimos pela Av. Francisco I Madero, também repleta de lojas e fechada para os pedestres (aos domingos). Ao fundo a Torre Latinoamericana.
 



Olha que inusitado: várias lojas de frutas ao lado das de roupas e calçados.


Ao final da avenida está o Palácio de Belas Artes, um dos prédios mais lindos em que meus olhos já pousaram. Esta abóbada colorida fica incrivelmente bela com a luz do sol refletida. Construído em 1905, tem arquitetura neoclássica e Art Nouveau, sua fachada é de mármore italiano e as cúpulas são feitas de azulejos. 


Muito majestoso também no seu interior.


Não pudemos tirar fotos, pois, embora a entrada fosse grátis aos domingos, para entrar com a câmera era necessário o pagamento de 10 pesos. Tudo tranquilo, se não fosse o horário. Chegamos exatamente às 16:55 e a visitação encerra às 17h, não daria tempo para pagar e ainda entrar e aqui não há o “jeitinho brasileiro”.


No Palácio há diversos murais, mas o mais famoso, sem dúvidas está no 2º andar do átrio da escadaria, chamado O Homem Controla o Universo ou O homem na Máquina do Tempo de Rivera (foto do blog Máquina Especulativa). Este mural foi originalmente pintado para o Edifício Rockefeller Center, mas foi inteiramente destruído em 1934, pela inserção de Lênin e outros ideólogos comunistas na pintura, o que não tinha sido aprovado pelos irmãos Rockefeller’s. Assim como os outros murais, é monumental, rico em detalhes, contando a história da ascensão da humanidade pelo povo, com toda ideologia comunista possível.


Ainda faltaram a Secretaria de Educação Pública, subir na Torre Latinoamericana, Templo de La Enseñanza, Museu José Luis Cuevas, Museu Nacional de Arte e Museu Mural Diego Rivera, que consumiria mais um delicioso dia de viagem e ficará para o nosso retorno à Cidade do México.
Visitar o Centro Histórico da Cidade do México e ver que pulsa de vida, que sua população o frequenta e passeia lentamente pelas ruas cheias, talvez procurando os passos de Rivera, Orozco, Octavio, Frida, Fuentes e Siqueiros, em um dos lugares mais ricos e criativos que tive o privilégio de conhecer.  
 

No colégio de San Idelfonso há uma placa de metal com um trecho deste poema, preciso ao falar da Cidade do México. 

“A esta hora
los muros rojos de San Ildefonso
son negros y respiran:
sol hecho tiempo,
tiempo hecho piedra,
piedra hecha cuerpo.
Estas calles fueron canales.
Al sol,
las casas eran plata:
ciudad de cal y canto,
luna caída en el lago.
Los criollos levantaron,
sobre el canal cegado y el ídolo enterrado,
otra ciudad
—no blanca: rosa y oro—
idea vuelta espacio, número tangible.
La asentaron
en el cruce de las ocho direcciones,
sus puertas
a lo invisible abiertas:
el cielo y el infierno
Barrio dormido.


  Andamos por galerías de ecos,

 

entre imágenes rotas:
nuestra historia”.

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