4 Em Cuba/ Havana

Centro Havana, o bairro mais cubano de Havana

Conheci Havana Vieja e Centro Havana aos dezoito anos de idade. Muito jovem, muito engajada, muito entusiasmada com os discursos da faculdade e da escola. Foi um choque de realidade, de um estilo de vida completamente diferente do meu, dores e alegrias também diferentes das minhas.

A vida que segue em Centro Havana, Cuba

Vida que segue em Centro Havana, Cuba

Estive em Cuba no final da década da fome, chamado pelo regime de “Período Especial”. Já não se sentia a crise econômica como no início dos anos noventa, mas ainda não haviam produtos nas lojas. Os amigos, que conhecemos lá, precisavam de tudo, de um sabonete a roupas. Acho que foi a primeira viagem e, até agora, a única que voltei com metade do peso na mala.

Os gringos de deleitam com carros antigos, Havana, Cuba

Os gringos de deleitam com carros antigos, Havana, Cuba

 

Mas a mente estava recheada, de ideias, sensações e, principalmente, de espírito crítico.

Voltei 18 anos depois, desta vez com o marido, roteiro livre e muita vontade de voltar a sentir tudo o que havia sentido em fevereiro de 1999. Muita vontade de reencontrar os cubanos.

Não é possível se ter uma ideia aprofundada de como é a vida em Cuba, seja em uma viagem de 15 dias (1999) ou de 10 dias (2017). No máximo podemos arranhar a superfície do país e de sua gente. O que eu posso falar de Cuba com certeza é que os cubanos são especiais. Gente simples, prestativa, latinos até o fio do cabelo.

Nessa segunda viagem percebi que as restrições do governo à informação diminuíram muito com o aumento do acesso à internet, tivemos mais liberdade de acesso às redes sociais e sites do que na China.

Essa liberdade e o aumento do turismo mudou um pouco a forma de se relacionar. Não tivemos tanto assédio para conversar, saber o que existia e como existia no além mar.

Hoje a aproximação é mais comercial, como no Brasil, as pessoas buscam te vender algo, indicar um lugar ou ser seu guia de viagem. Perdeu-se o interesse mais genuíno, de conhecer pessoas e vidas novas. Mas se ganhou em muitas outras coisas. Talvez para o turista a vida esteja mais complicada, para os cubanos, acho que não.

Centro Havana, no ponto em frente ao Malecón, está praticamente todo restaurado, com auxílio da Unesco. As lojas já possuem produtos de consumo para cubanos e turistas.

Comemos em paladares (restaurantes domiciliares) autorizados pelo governo e até em uma pizzaria polular que vendia na moeda dos locais, o Cup (o Cuc é indexada com o dollar) e custou 0,50 a pizza brotinho. Antes os lugares que vendiam em CUP não podiam vender para turistas.

Entrada do Museu da Revolução, Havana, Cuba

Mas os paladares como vimos em 99 não se parecem com os atuais. Comíamos no quintal de casas, nas mesas dos donos, em lugares sem placa, indicação ou cardápios. Ilegais.

Só conhecia quem já tivesse o endereço em mãos ou fosse levado por um cubano. Hoje os paladares não deixam a dever a nenhum restaurante popular de Salvador. Alguns são até luxuosos.

Na primeira viagem ficamos hospedadas, eu e minha irmã, em Vedado, um hotel três estrelas, enorme, com piscina e serviço de quarto. Desta vez, resolvemos ficar em uma residência domiciliar em Centro Havana. Centro Havana tem o nome correto, fica exatamente entre Havana Vieja e Vedado, próximo do Malecón, principais pontos de interesse dos turistas.

Nossa vizinha em Centro Havana, Havana, Cuba

Nossa vizinha em Centro Havana, Havana, Cuba

Centro Havana tem a enorme vantagem de ser lugar de residência de muitos cubanos, diferente de Havana Vieja que vive apenas do turismo ou mesmo da “aristocrática” Vedado e seus edifícios dos anos 50. Em Centro Havana o casario colonial ainda não está totalmente reformado, (principalmente nas ruas vicinais).

As crianças ainda jogam futebol na rua e vizinhos conversam de uma janela para outra.

Ao mesmo tempo, temos os dois melhores museus da cidade em Centro Havana, a avenida de pedestres mais bonita e o Malecón logo ao lado soprando a sua brisa marinha indomável. Esse bairro merece uma vida inteira, mas podemos conhecer muita coisa em um dia.

Propaganda e contra-propaganda oficial, Havana, Cuba

Propaganda e contra-propaganda oficial, Havana, Cuba

Paseo del Prado

A mais bonita avenida de pedestre de Havana, de 1772, e ao longo de seu caminho estão riquezas coloniais, neoclássicas e barrocas.  Algumas ricamente conservadas, outras parecem que vão cair em nossas cabeças.

Paseo del Prado com Capitólio ao fundo, Havana, Cuba

Observe os leões de bronze que abrem a avenida e estão ao longo de seu caminho. Logo no início está a escultura do Poeta J.C. Zenea poeta e mártir da independência cubana.

Poeta e Martir J. C. Zenea, Centro Havana, Cuba

Aos sábados e domingos, moradores e turistas se reunem para jogar dominó, comprar artesanato, tomar rum e ouvir música, andar de patins e skate. A avenida vira um exercício antropológico. A iluminação à noite é um pouco escassa pelas luminárias antigas que são a única fonte de luz, mas também é super tranquilo e fresco para passear.

Museu de Belas Artes

O meu favorito em Cuba! É impressionante a qualidade e a quantidade de obras desse museu. Uma pena que não permita fotos.

Escultura no Jardim do Museu de Belas Artes, Havana, Cuba

Escultura no Jardim do Museu de Belas Artes, Havana, Cuba

Se gosta de arte, no Museu de Belas Artes temos a retrospectiva de toda a produção cubana, que é enorme.

Vale a pena reservar ao menos três horas para percorrer seus corredores. São 30 mil obras e me impressionou especialmente a seção de obras contemporâneas.

Arte contemporânea do Museu de Belas Artes de Havana, Cuba

Arte contemporânea do Museu de Belas Artes de Havana, Cuba

Museu da Revolução

Esse museu trata da instauração do regime comunista em Cuba. É interessante ver o ponto de vista do governo, amplamente difundido na propaganda institucional das ruas, prédios e outdoors. Em 1999, parecia que havia uma propaganda a cada 200 m, hoje está muito mais difusa. Mas o museu permanece o mesmo.

As armas de guerra utilizadas para a entrada em Havana, Cuba

As armas de guerra utilizadas para a entrada em Havana, Cuba

Lembro de ver os objetos e armas com certo receio e confusão. Hoje, adulta, com novas perspectivas do ser humano, de sua incompletude, imperfeição e defeitos, puder ver tudo com outros olhos. A maturidade também nos faz encontrar novos pontos de vista. Como o das mulheres que participaram da guerrilha no interior do país.

Sim, também há guerrilheiras, Havana, Cuba

O Museu também é interessante pelo prédio em que foi construído. Antes o Palácio Presidencial, decorado pela Tiffany e seus lustres majestosos, habitação de Fugêncio Batista, o presidente derrubado pelos Castro. Mas o Museu da Revolução não é apenas sobre a revolução, mas sobre a história de Cuba, do seu período pré-colonial, colonial e atual.

A lindeza do prédio onde está no Museu da Revolução, Havana, Cuba

Dentro do Museu, nos fundos, há o Pavilhão Memorial Granma, onde fica o iate de 13 metros  que serviu para levar Fidel, Raúl Castro e Che Guevara, junto com outros 80 para Cuba, em 1956.

Armas e barcos utilizados na tomada de Havana, Cuba

Além do que está no interior do museu, as paredes do lado de fora do edifício de 1920, especialmente à direita, estão cravejadas de balas da tomada de Havana.

Marcas de tiros no Museu da Revolução, Havana, Cuba

E para as pessoas que evitam países com governos ditatoriais, de direita ou de esquerda, eu digo: Meu foco é o ser humano, onde houver “sangue, suor e lágrimas” eu quero conhecer.

José Marti, onipresente em Havana, Cuba

Pretende conhecer Cuba, o Booking agora reserva de hotéis icônicos como o Hotel Nacional como casas residenciais, ficamos em uma em Centro Havana.

Quer conhecer outras ilhas caribenhas, temos posts sobre a República Dominicana, a linda República Dominicana.

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4 Comentários

  • Responder
    Alberto Franco
    19 de agosto de 2020 em 11:35

    Legal o seu blog. Estou interessado em conhecer Havana depois dessa crise de Covid. É cara uma viagem para lá? Qnto mais ou menos se gasta? Agradeço se puder dar uma noção pra mim.

    • Responder
      viagensinvisiveis
      21 de agosto de 2020 em 15:58

      Olá Alberto, achei os preços bem acessíveis. Pagamos hospedagem em casa domiciliar por E$ 30,00 a E$ 35,00 em quartos com ar condicionado, frigobar, tv, chuveiro quente e até um bom café da manhã. Em termos de alimentação, há restaurantes para todos os bolsos, lembrando que, por se tratar de uma ilha que sofre embargo econômico alguns produtos são mais difíceis de encontrar e mais caros. Achei os preços em restaurantes comuns em locais turísticos muito parecidos com Salvador. Em bairros menos turísticos é possível encontrar restaurantes que aceitam o CUP a moeda local, CUC é a moeda do turismo. Neles é possível comer com valores muito baixos, eu paguei R$1,00 em uma pizza brotinho. Havana não tem muitas atrações pagas, o seu grande valor está no casario histórico bem preservado, na cultura e na música, que podem ser apreciados gratuitamente. Ingressos em Museus não são impeditivos e nas praias tomamos ótimas piñas coladas por U$2,00. Enfim, só recomendo. Abs

    • Responder
      viagensinvisiveis
      21 de agosto de 2020 em 15:59

      O mais complicado é a passagem aérea, que não tem vôos direto para o Brasil. Com a passagem aérea comprada, eu reservaria cem dólar por dia por pessoa para não ter aperto.

  • Responder
    Pedrett
    6 de agosto de 2022 em 12:40

    Adorei o post! Estou indo pra lá esse mês (meio de agosto) e queria saber se devo levar roupas de frio e como fazer o câmbio. Saludos desde Brasil!

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