Carmelo é o típico interior do Uruguai, até a falta de informações na internet sobre a cidade deixa transparecer isto. A maioria dos relatos se detinha nas vinícolas, pousadas, restaurantes e no resort Hyatt (antigo Four Seasons). Os poucos relatos que encontrei limitavam-se a dizer que era uma cidade sem muitos atrativos.
Ainda assim, decidimos que na volta passearíamos um pouco de carro para conhecer melhor a cidade. Combinamos com Norberto, nosso remis, e ele nos levou até o centro da cidade, onde compramos doce de leite e um parmesão produzido na principal cooperativa da região, a Calcar.
Demos uma volta pelas duas principais praças da cidade e suas Igrejas, até chegar na mais fotogênica atração da cidade: a ponte inglesa.
Construída em 1912, é uma ponte giratória que permite a passagem de grandes embarcações. Segundo Norberto, o estado dela não é dos melhores e em breve deve ser construída uma ponte dupla, mais moderna, para desafogar veículos mais pesados.
O progresso demanda suas questões, mas acabar a ponte inglesa será de partir do coração. Seria lindo manter como uma via de pedestres, fica a dica prefeito 😉
Próximo à ponte está o Porto, onde sai os barcos para El Tigre em Buenos Aires, possibilitando sair de BAs direto para Carmelo, sem passar por Colônia do Sacramento. Em frente ao porto, há uma série de armazéns antigos, antes utilizados para o escoamento da produção.
A melhor vista da ponte está na pequena orla construída quase ao nível do rio, com bancos e parreiras. Muito agradável para passar alguns minutos apreciando os barcos e o pouco movimento da cidade.
Me impressionou muito o casario antigo do centro da cidade, os automóveis de época, parece que voltamos no tempo, como em Colônia del Sacramento, mas com ares ainda mais interioranos.
Norberto nos levou até a orla da cidade, passando por um parque muito bonito, com área para camping e restaurantes. No verão é um ponto muito visitado, inclusive pelos locais. Próximo à Playa Sere, esta praia do rio da Prata, está o Cassino de Carmelo.
Achamos o hotel um pouco decadente e Norberto nos falou que estava assim depois que o governo tirou a mesa de roleta. Hoje o Cassino possui apenas máquinas eletrônicas.
Terminamos nosso pequeno city tour, com um olhar um pouco tímido de Norberto ao afirmar “Bom, é só isto” e discordei das opiniões negativas sobre a cidade de Carmelo, inclusive do diminutivo utilizado por Norberto.
Na verdade, Carmelo é uma típica cidade de interior, temperada com a simpatia Uruguaia. Duas situações que vivemos mostra bem isso:
Quando estávamos no ônibus da Berruti, o cobrador perguntou a todos os passageiros onde eles iriam ficar. Ele não sabia onde ficava a Campotinto, mas um passageiro logo atrás sabia e foi explicando em detalhes. Seguimos viagem e logo adiante o cobrador já tinha esquecido o endereço. Quando chegamos no posto central, ligou do próprio celular para um, dois, três conhecidos e conseguiu lembrar onde ficava o Camino de los Pelegrinos.
Nos deixou na rua e seguiu viagem. 02 dias depois, quando estávamos saindo do mercadinho com o queijo e o doce de leite, passa o ônibus e o cobrador nos acena efusivamente, com um sorrisão!
No mesmo dia, quando estávamos a caminho de Playa Sere, Norberto nos mostrou a prefeitura. Parecia uma casa comum, bonita, mas afastada do centro da cidade. Ao passar pelo fundo, vimos roupas estendidas e um jardim descuidado com brinquedos. Perguntei o que seria aquilo e Norberto, sem surpresa, nos contou: -É que o prefeito mora ai, então são suas roupas e os brinquedos de seus filhos.
A simplicidade da cidade, a simpatia de seus moradores. Isto é o que deve se esperar de uma cidade como Carmelo. Guardar mais expectativas é perder o que ela tem a lhe oferecer e não enxergar que, às vezes, são as coisas mais singelas que nos tocam.
Ah, mas não foi só amor, também teve perrengue…
Depois de lembrar o caminho, o cobrador do ônibus disse que era super perto a vinícola do ponto onde ele iria nos deixar. Além de não ser muito perto, cerca de 1,5km ainda entramos em uma casa particular pensando que era a pousada e quase fomos atacados por 2 pit bulls. Sorte que eles eram adestrados, então ficaram rosnando e latindo a medida que a louca aqui se aproximava.
No dia seguinte, saímos da bodega El Legado felizes da vida, pois o atendimento foi espetacular. De bicicleta, às 20hrs, em uma estrada de terra sem iluminação, nós e Lola, a cadela da Campotinto. Erramos o caminho, quando fiz a curva dei de cara com uma lua imensa que ainda não tinha visto. Fiquei tão maravilhada e empolgada que cai em uma vala. Isso mesmo, cai com bicicleta e tudo dentro de uma vala.
Passado o susto, retomamos o caminho com muitas risadas, perna toda arranhada e olhos tentando adivinhar a estrada pelo desenho que as sobras faziam na terra.
Para ler mais sobre o Carmelo, temos vários posts aqui.